Breves realizações…

O que é se sentir realizadx? O que nos faz perceber que algo bom nos causou esse sentimento de “uau, que realização incrível”? O que te faz admirar algo que você até pensou, mas outros foram lá fizeram e você pôde ver com seus próprios olhos que aquilo estava acontecendo??

Saio desse monte de perguntas pra sair afirmando muitas coisas muito bacanas que vivi e que gostaria de ter vivenciado mais durante essa semana.

CONTEXTUALIZANDO: o Diretório Acadêmico (D.A.) da Psicologia da UNISC promoveu a I Semana da Diversidade Sexual (aberto, porque não, não era só pra Psico). Fui somente quinta e sexta, mas me valeu de muita coisa. Porque quando eu estava no DCE da UNISC entre 2007-2009 tentamos articular um movimento feminista diversas vezes e bem, falhamos… ver um DA extremamente ligado ao movimento feminista (que consequentemente pensa a causa LGBTT) me dá esperanças no mundo novamente…

Esta publicação no blog de hoje, não é simplesmente pra dizer o quanto admiro/gosto/adoro essa galera do DA da Psico, do Coletivo Feminista Maria Subversiva ou do pessoal do Grupo de Estudos e Trabalhos em Saúde Coletiva, ou algo assim… isso a galerinha toda já sabe!!

Essa publicação é pra agradecer e pra essas pessoas ficarem antenadas do quão importante esses espaços são. Produtores de conteúdos, produtores de discussões, de reflexões, de afetos…

Não se trata apenas de militância, mas dos “produtos” que saem disso, das possibilidades. Que em outros lugares a discussão LGBTT é mais avançada disso não tenho dúvidas, mas não ouse desqualificar ou reduzir as coisas. Essa I Semana da Diversidade Sexual acontecer apenas em 2014 significa que estamos rompendo um conservadorismo extremo que há nesta região do Rio Grande do Sul.

Não é apenas “o primeiro de muitos”, é um tapa na cara dessa sociedade puritana e hipócrita que temos. E o que isso tem a ver com o título? TUDO! Elxs realizaram algo do qual eu pude usufruir, crescer e voltar a creditar que a militância LGBTT/Feminista não se faz só em capitais ou grandes centros urbanos… mas aqui, numa cidade que recebe tanta gente plural, mas que é extremamente conservadora e que tenta enquadrar tudo e todos.

Me sinto realizada ao ver o quão de possibilidades um grupo de pessoas unidas e organizadas podem fazer.

Tudo isso com a seriedade necessária, a descontração típica de um verdadeiro Movimento Estudantil e Social, e com o afeto único que encanta, a alteridade é visível nos olhos e nas bocas de cada militante e cada lindx que organizou.

O mais mais mais encantador ainda é ver gente novíssima super a par das discussões, não em nível de teóricos e mimimi, não gentes lindas com 14-15 anos participante e se afe(a)tuando ali… ISSO É MOVIMENTO, isso que temos que fazer… o movimento não é nosso com nossos nomes, é algo maior, é algo que deve ser contagioso e que importe…

Sem mais por hoje… PARABÉNS gentes lindas

 

PS: roubei a foto que a Caki Deufel tirou da confecção de cartazes.I Semana Diversidade Sexual

CAPES e suas (in)coerências

Acredito que estamos vivendo uma “crise acadêmica” no Brasil. Não, não é um terrorismo vazio sem propósito, é apenas algo que observo a partir de um lugar que estou neste momento.

Estou num programa de pós-graduação strictu senso, Mestrado…

Bem, é algo que sempre almejei na minha vida, mas não imaginava que a pesquisa e as universidades se submetessem a uma lógica extremamente capitalista e tosca, sim, porque é tosca a maneira de se pensar a PRODUÇÃO acadêmica como algo mecânico. E é exatamente isso que está acontecendo.

Pra quem não sabe os programas de Mestrado/Doutorado têm notas que vão, na teoria, de 1-7. Na prática, as notas efetivamente vão de 3-7.Por quê? Bem 3 é a nota mínima pra um programa abrir e continuar aberto. E bem, todo o programa deseja aumentar sua nota, ou, pra quem tem 7, deseja permanecer com ela.

Pra permanecer com tal nota a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) criou uns critérios “maravilhosos”:

– número de produção (independente do seu impacto social) – reclassificação de importância das Revistas Científicas (o tal do Qualis)

– avaliação curricular em torno dos dois primeiros itens

ENTRE OUTROS

E bem antes de chegar a crítica devo explicar também o que é o Qualis. É uma tabela (por assim dizer) que qualifica a importância de uma determinada revista e é mais ou menos assim: A1 e A2 – artigos de “nível internacional” de pesquisas importantes e todo fodástico, segundo a CAPES, que fique claro.

B1 e B2 – artigos fodásticos mas a nível nacional apenas, no máximo de importância sulamericana

B3, B4 e B5 – artigos… é… só isso 

C – nem pontua

Até aí tudo bem, sério mesmo, acho que tem artigos mais relevantes e revistas mais relevantes que outras, paciência, TEM.

Mas bem, a grande questão é que como os programas de Mestrado são avaliados pelos currículos dos professores (também). Hoje em dia é cobrado que se produza artigos, muitos artigos e eles têm que ser bons… B3 a B5 não valem “nada”… mas esse não é mais grave.

O que tem me surpreendido é que LIVROS estão valendo menos que artigos A. É isso mesmo, pessoas fodásticas como Foucault, Nietzsche, Paulo Freire, Bauman, etc. teriam currículos considerados ruins pra nossa “querida e amada” CAPES por produzirem “apenas” livros. Muitos professores produzem livros porque é mais relevante socialmente, é mais interessante, mas temos a lógica de mercado. A lógica do mercado faz com que produzamos 15-20 pág ou melhor, várias 15-20 páginas por ano pra nosso curriculo ser bem avaliado e o Programa de Mestrado ao qual estamos ligados ganhe uma nota melhor ou permaneça onde está (caso seja 7)

Nas universidades particulares isso se agrava ainda mais… porque ainda tem a questão do profesor não dar aula apenas pro Programa de Pós-Graduação (PPG), ele dá aula na Graduação, e não é só uma disciplina… no mínimo TRÊS, se querem artigos OK, mas como fazê-lo sem tempo?

Mas voltando ao meu foco principal LIVROS x ARTIGOS.

Há uma classificação pros livros também, mas que por enquanto, ninguém leva a sério. Então analisemos a partir do presente… como disse: imagina Foucault, Nietzsche, Bauman, etc. sendo professores titulares de um PPG e esse PPG perder nota porque não produziram artigos… e mais, imaginem “Vigiar e Punir” ou “Assim falava Zaratrustra” compilado em 15 páginas…

Ao invés de pesquisadores e livres pensadores, estamos tendo uma nova categoria acadêmica: produtores de artigo. A mediocridade disso é tamanha que me faltam palavras pra descrever isso. Ahhh antes que alguém diga que estamos imitando algum país… NÃO, é algo criado por nós… na hora que temos que imitar os americanos a gente não imita. É porque lá um pesquisador pode ficar 10 ANOS… DEZ ANOS sem produzir muita coisa, desde que quando lance, seja algo relevante pra comunidade acadêmica e pra sociedade… e não precisa ser artigo, DE PREFERÊNCIA LIVRO.

Não, não sou uma alienada que acha bacana imitarmos os EUA, mas fazemos isso com uma certa frequencia, mas agora que até eu apoiaria a imitação, a CAPES faz essa coisa “genial” e original…

Por hoje é só…

Lógica do mercado na pesquisa, nunca imaginei que algum dia teria q escrever sobre isso… DECEPCIONANTE.